


Ilustração de XTiuk no semanário “Tribuna de Guarapuava” n° 47, de 29/07/1995, quando da publicação da matéria.
Murilo Walter Teixeira | Publicado: 01/06/2018 | Editado: 01/06/2018
A Bela Ferrari
Numa dessas belas manhãs de temperatura amena, estava sentado num dos bancos defronte o Clube Guaíra em companhia do Dr. Luby - o ‘mestre dos mestres’, como diziam com frequência seus interlocutores. Discorria sobre a civilização Maia e Asteca, baseados em matéria de um dos jornais diários do Estado, quando estaciona em nossa frente, no único espaço existente naquele momento, uma bela Ferrari, vermelhinha, reluzente e imponente como só acontece em veículos dessa estirpe.
Era difícil de acreditar que em nossa cidade surgisse uma dessas raridades automobilísticas e de valor altíssimo. Neste tempo de crise, qual seria o conterrâneo sortudo a ostentar esse troféu.
Imediatamente foi cercado por uma grande quantidade de curiosos e as conjecturas a respeito, foram as mais diversas. Seria o próximo carro a ser sorteado no bingo?
Ouvi quando um cidadão mencionou que não trocaria pelo seu fusca. Reclamou do número excessivo de relógios e marcadores.
Logo, um fotógrafo nipônico pipoca sua máquina.
Ainda sentados, ficamos a remoer as razões daquela presença, quando o cidadão da Ferrari, sai do veículo e vem em nossa direção. Concluímos que viria pedir informações da cidade. Mas, o que nos causou surpresa foi sua roupa. Vestia um belo fraque que chegou a ser ironizado pelo Dr. Luby.
- O que vem fazer esse sujeito fantasiado de pinguim?
Voltou até a sua Ferrari e apanhou a cartola. Usava polainas sobre os sapatos que brilhavam intensamente.
Vestimenta usada em cerimônias palacianas provocou naquele cidadão um erro de pontaria. Nem casa comercial a cidade possui com a denominação de palácio.
Passa por nós, cumprimenta-nos e indica com a bengala a flor de amor perfeito numa das floreiras, enaltecendo aquela imagem. Colhe uma e coloca na lapela. Entra no Clube Guaíra.
Os bisbilhoteiros ficam indecisos entre o carro e a porta do Clube. Não sabem o que olhar primeiro.
Próximo a um dos leões, naquela janela maior, vi a cartola do sujeito como que observando seu veículo.
Que poderia fazer, esse indivíduo, num salão vazio com as cadeiras sobre as mesas.
Percebi que um funcionário do clube gesticulava em demasia.
Ao sair, ouvimos do porteiro a menção de que naquele dia não haveria baile.
Só faltava essa, uma pessoa em plena manhã, vestir essa indumentária e desejar dançar baile e ainda ser conduzido por um carrão que só apreciamos em filmes ainda no tempo do Cine Guará.
Por favor, não me peçam maiores e melhores explicações. O homem entrou no veículo e saiu pela Rua Capitão Rocha. Dizem que foi em direção do supermercado. Queria comprovar com as fotos, mas não encontrei, de forma alguma, o fotógrafo oriundo do sol nascente. Ficou dito pelo não dito