

Murilo Walter Teixeira | Publicado: 11/06/2018 | Editado: 11/06/2018
Bar América
Rosa, Juca, Crespo, Oswaldo, Antoninho, Paulo, Canderoy, Bortolo e Chico (estes dois últimos os mais gordinhos), pessoas que se entrelaçam e se imiscuem no burburinho dos fatos e acontecimentos da cidade na longínqua década de quarenta, estendendo-se pelos anos cinqüenta.
Era a família Demário, tradicionais no contacto com o público, quando estavam à frente da casa comercial - Bar América; local que aglutinou por um bom tempo as atenções dos comensais pelas sua bela e gostosa iguaria, capitaneada por dona Herminia, esposa do Chico Demário. Importantes foram os jantares servidos para autoridades e visitantes ilustres e fregueses constantes. Também convergiam admiradores do bilhar e carambola (existia uma imensa sala com mais ou menos uma dúzia de mesas); apreciadores de finas bebidas e uma sorveteria moderna administrada pelo Jair, cujas taças de sorvetes eram servidas acompanhadas de um copo d´água. Sem esquecer, no entanto, as saborosas empadas, queijadas e pudins, acrescidos de chocolate com leite, feitos pelo seu Udo Kruger, degustados após a sessão noturna do Cine Teatro Guará, com a presença da rapaziada de então: Nikon Tembil, Silvio Bischof, Antonio Stocco, Anézio Silverio, Mauro Teixeira, Diógenes Guimarães Pupo, Lincoln Caldas, Jamardo, Francinha, Nhunho, Xirú, Chede, Tebolê e outros mais. O Bar América situado na rua XV de Novembro - coração da cidade, próximo ao “aristocrático” Clube Guaira, defronte aos Correios, Prefeitura e Câmara Municipal. Ponto privilegiado onde convergiam atenções, interesses e curiosidades, por parte da população na troca de notícias e fofocas políticas.
Lembro que ao acompanhar uma procissão religiosa desempenhando as funções de sacristão, presenciei o fechamento das portas do Bar América em sinal de respeito, enquanto passava o cortejo. Acontecimento que me marcou significativamente, fixando-se indelevelmente em minha memória.
Numa dessas procissões em que participou o Dr. Norton P. Bastos, quando era “pequetitozinho”, vestido de anjo em atenção a alguma promessa feita pela dona Laura - sua mãe. Uma longa vestimenta com asas avantajadas brancas, fixadas em seu dorso. Parecendo-lhe algo familiar, a todo o instante pronunciava as palavras: cocó, cocoricó, cocó... Dona Laura e seu Romeu tiveram que intervir esclarecendo-lhe não se tratar de fantasia de galo.
Por um bom tempo o balcão principal do Bar América foi ocupado pelo Chico Demário, ostentando sua bonomia, afável com todos os seus fregueses; sua obesidade tornou-o com uma característica inesquecível. Na prateleira, um aparelho da marca Philips constantemente sintonizado na Radio Nacional – destacando o Reporte Esso – “registro ocular da história”, sempre acompanho pelos circundantes, notificando-se das narrativas e escaramuças ocorridas na grande guerra mundial.
Era o ponto final das grandes caçadas que apresentavam o produto aos curiosos, numa prova inequívoca de seus feitos, e sempre que podia o fotógrafo Quartiero registrava o acontecimento.
Sem dúvida, uma legenda guarapuavana.
*+publicado no semanário “O Jornal” do ano de 1993