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Sem uma educação verdadeira não há redes que sejam realmente sociais

Cláudio Andrade | Publicado: 16/02/2018  |  Editado: 19/02/2018

Sem uma educação verdadeira não há redes que sejam realmente sociais

   Tenho observado na sociedade brasileira que as pessoas avançam como sonâmbulas para uma guerra política sem saber exatamente qual é a causa da mesma. Este sonambulismo, cada vez mais evidente, fruto de uma hipnose coletiva, têm acelerado o fim do que um dia já denominamos por democracia.  Diferente de muitos pessimistas, não faria o que faço [escrever e falar sobre esfera pública aqui e ali], às vezes prejudicando meu ócio criativo e às vezes a atividade profissional se não guardasse uma parte de esperança em ver um quadro diferente do que estou vendo hoje.

   Em particular preocupo-me com a interferência das redes sociais na vida política nacional e local. Curioso, fui ler a última publicação do Professor Renato Janine Ribeiro [ ex-Ministro da Educação] que trata disto. O título é sugestivo: ‘A Boa Política – Ensaios sobre a democracia na era da Internet’. Ali ficou cristalino que, infelizmente, as redes sociais, muito longe de sua veia emancipatória, gasta mais  energia em “exibir tudo” , “ver tudo”, “saber de tudo” no que diz respeito ao mero entretenimento do que qualquer outra coisa. Todavia é um espaço onde se reflete cada vez menos. A formidável liberdade do homem moderno nunca se revelou tão estéril para o pensamento levando toda a dimensão do respeito e do sagrado para o ralo.

   Outro dia, lia uma entrevista de um alto executivo da “Google” fazendo elogios ao pragmatismo e eficiência da mesma em criar dispositivos para fomentar a cura do câncer e o avanço da ciência.  Diante da pergunta se havia alguma área em particular que a Google não tivesse controle sobre a opinião pública em processo de domesticação, respondeu: “Há sim ! Fanatismo e falta de tolerância. Não sabemos como lidar com isso. Sabemos o que fazer com quase tudo.”  Concluiu dizendo que ainda tem esperanças que a Google fizesse um aplicativo para a construção do diálogo, da tolerância e de um civismo necessário.

   Mesmo com o acesso de tanta gente nas redes sociais, não vivemos em uma sociedade aberta. Pelo contrário. Quem te lê quase sempre já está de acordo com o que você escreve. Quem não te lê, quase sempre é porque não te avaliza. Uma sociedade de guetos, fechada e autoritária. Este espaço [redes sociais], inicialmente algo genial, viu nascer o conceito de pós-verdade ou uma mentira disfarçada de estratégia para banalizar o que se publica e o que se comenta. Reiteram-se as mesmas coisas, sem nenhum frescor. Temos ali o sinônimo do ‘homem sem conteúdo’ ou ‘o retrato do homem sem gravidade’, que circula no que chamei anteriormente de hipnose coletiva.

   Nas redes sociais, não basta a ideia, é preciso saber se alguém está lendo, ouvindo e se as pessoas acreditam nas boas conclusões civilizatórias. Sem educação não há boas redes sociais. Daí a necessidade de defender a boa educação, sem fanatismo de direita ou esquerda, qualificando a diversidade saudável e equilibrada, valorizando professores e professoras que vêem a ética não como um problema dos outros, mas como um problema de todos nós. Este é um passo importante para que nossa classe professoral exerça a responsabilidade de nossa alta função, que não consiste em orientar meninos, adolescentes e universitários para que sejam revolucionários ou conservadores, ou tão somente o reconhecimento profissional e financeiro e  sim para que conheçam os requisitos da cidadania democrática e a exerçam como acharem melhor desde que o ser humano seja considerado.
 

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