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Espero um dia ver ecoar esta máxima: “Não somos a favor da mesma coisa, mas somos contra a mesma coisa”.

Cláudio Andrade | Publicado: 01/05/2018  |  Editado: 01/05/2018

Espero um dia ver ecoar esta máxima: “Não somos a favor da mesma coisa, mas somos contra a mesma coisa”.

   Quando se tem medo, fortalece-se o outro lado. Esta frase pode ser utilizada por simpatizantes  conservadores ou progressistas ou algo que os valha. A timidez, omissão ou falta de protagonismo joga a favor do oponente. Esta apatia denominada de sonambulismo tem sido deprimente. Não me canso de constatar que estamos vivendo um deserto de idéias onde assistimos inertes uma espécie de revolução mundial que está em marcha, a saber: revolução das idéias simples, de clichês, de mesmices.  Pouca ou quase nenhuma originalidade. Repete-se religiosamente o que a mídia hegemônica quer que repitamos através de uma pauta única.

    Se Bolsonaro, Trump e idéias fascistas são as respostas para este novo mundo é possível que não estamos fazendo as perguntas certas. Tudo isto é estranho e, ao que parece errático. Ultimamente tenho dado mais crédito ao que escreveu Saramago quando afirmou que “os fascistas do futuro não vão ter aquele estereótipo do Hitler ou Mussolini. Não vão ter aquele jeito de militar durão. Vão ser homens falando tudo aquilo que a maioria quer ouvir. Sobre bondade, família, bons costumes, religião e ética. Nessa hora vai surgir o novo demônio, e tão poucos vão perceber a história se repetindo.” Quando converso com amigos, colegas e próximos, geralmente simpatizantes de um novo fascismo, impossível não lembrar de Saramago. É por isto que estou chocado com  esta mentalidade militarizante de querer resolver as coisas no fundamentalismo, na radicalidade ou até mesmo no grito e no soco. Confesso que não imaginava chegar onde chegamos. Neste tempo presente, quando você introduz alguma sutileza ou idéia que destoa do enxame, há um exército contra você e isto está ficando muito perigoso. Não  há mais limite para a barbárie. Tudo está permitido.

    Não há dúvida que corremos sérios riscos sendo o principal o de jogar a água suja da banheira e inevitavelmente perdermos o essencial, o bebê.

    Tenho claro que não são apenas as boas idéias e os bons livros que resolverão nossos problemas.  Percebo isto claramente. Este idealismo não tem conseguido convencer ou atingir a capilaridade do brasileiro. É preciso saber se alguém está ouvindo, se as pessoas acreditam nas conclusões a que se chega.  O filtro de tudo isto tem a ver com educação e meios de comunicação, aliás, dois grandes inimigos. Enquanto a ‘verdadeira educação’ tenta plantar algo transformador, a mídia destila seu tóxico mais corrosivo, a mentira e a manipulação.  Infelizmente tem gente que pensa exatamente o contrário. Hoje, a mentira e a verdade passa a ter o mesmo status e é muito difícil distinguir uma da outra. É uma situação filosófica totalmente nova que não estamos sabendo lidar.

    Dentro do razoável, considerando a velha máxima do bom senso e da boa arbitragem, própria de homens e mulheres com moderada civilização, precisamos encontrar uma saída honrosa. A justiça, dita por alguns como juristocracia e por outros como messiânica, acertando ou errando, está posta. Cortando a carne de alguns ou só a pele de outros, não vai parar. Os processos avançam e a guilhotina continua afiada. Mesmo sendo difícil entender isto, o fato é que o horizonte ou a imagem à nossa frente nos permite compreender que os ‘arautos’ de um certo bem não fizeram somente o bem, mas tanto mal quanto aqueles que sempre fizeram o mal. A conta começa a fechar. Ficaria feliz se visse postagem de meus ex-alunos e alunas defendendo a tese de que “não somos a favor da mesma coisa, mas somos contra a mesma coisa”.  Escrevi propositalmente ‘ex-alunos’ porque os atuais ainda tenho chance de convencê-los.

    Me preocupa a indefinição e a angústia das pessoas comuns quando o que está em jogo é algo muito maior que siglas partidárias e nomes de alguns postulantes ‘cada vez mais instrumentos e acessórios’ que propriamente líderes com L maiúsculo em sua essência.

    Tentando enxergar além das rédeas e das sombras, vejo o sistema mundo em risco com o fim da financeirização e o ciclo do acúmulo em curso. A pergunta é, e agora? O que se apresenta? Sem líderes mundiais equilibrados, com exceção do Papa Francisco e sua humanização necessária, vejo cada vez mais o crescimentos dos “ismos” que não é outra coisa senão ‘fundamentalismos’. Aliás, saber que Francisco é mais odiado dentro da igreja que fora dela é um sintoma de que as coisas estão realmente desbussoladas. Sabe-se que após esta fase, em tom de desespero, sobrarão conflitos e caos. Neste cenário, está cada vez mais evidenciado que as excepcionalidades tem se transformado em regras.

É assim que compactuo em número, gênero e grau com o filósofo alemão Habermas quando afirmou: “os partidos democráticos deveriam parar com os populismos de direita e esquerda e preferir os valores que deveriam representar”. Este é o meu diagnóstico.

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