

TENHO DITO. TENHO ESCRITO.
Tenho dito que o momento não pode ser de lamentação, mas de criação e transformação. É a partir deste terreno incerto que devemos hoje reencontrar o caminho de uma outra política, de uma outra fala. Não há dúvida nenhuma que estamos presenciando um claro estado de exceção. As exceções parecem ser as novas regras. É por esta razão que acredito que ainda devo continuar escrevendo, pois do contrário já estaria morto. Acredito que não se escreve sem uma necessidade. Escrever é uma terapia. Então vamos lá. Urge encontramos um rearranjo para se pensar a criação e uma resistência que não seja mera oposição, pois isto seria infantil e de uma pequenice sem tamanho. Saibamos compreender este novo processo e apontar algumas saídas.
Tenho meditado muito nestas últimas semanas sobre nosso amanhã, sobre poder fazer que seja também um poder não fazer.
Está muito repetitivo ler e ouvir dizer discursos de especialistas que insistem em falar de mercado, de direita e esquerda, de crise das instituições, de crise dos partidos, de incertezas sobre o futuro, sem, porém ter realmente algo a dizer concretamente. Sinto um vazio, é isto que sinto. Poucos esclarecem a pergunta: em nome de quem, do quê, para quem e para o quê se dirigem alguns escritos e algumas entrevistas que somos quase obrigados a digerir, mesmo sem apetite.
Pois bem, vamos aos fatos e a proposta que quero defender. Defendo uma política individual provisória que se aproxime de um autoreferenciamento resultando em uma relação pessoal privada ou íntima com potencialidade de desativar e tornar inoperosos os opostos neste momento de barbárie e inúmeros dispositivos e técnicas de sujeição. O pano de fundo parece estar em reconhecer a fuga individual como estratégia de uma vivência de um modo de ser e agir em forma de um hábito a ser seguido.
Estou bastante obstinado em colaborar na construção de uma política individual para pensar e praticar momentos de recomposição política à altura da governamentalidade neoliberal no tempo presente.
Reconheço o sujeito [as pessoas] não mais como substância, mas sim como forma, sendo esta passível de transformação, qualificação e requalificação. A pergunta que precisamos tentar responder é: de que maneira pode-se ser livre e autônomo nos espaços construídos pelo poder vigente no mundo e agora em nosso País? Como cuidar de si em tempos de sobreposição do grito e de imposições que não encontram acolhidas em espíritos considerados livres? A saída poderia ser novas formas de subjetividade através da recusa de técnicas e dispositivos de sujeição e a defesa de uma nova subjetivação. O que sei é que neste momento de interregno (entre uma coisa e outra) há sempre espaço para um novo paradigma, um novo jeito de compreender o mundo, a sociedade, as pessoas. Peço um esforço a mais a cada um de vocês para uma forma de vida incomum, de uma vida capaz de condutas distintas ou ainda ‘modos-de-vida-outros’. Tenho dito.